Especialistas avaliam como
esta tecnologia pode contribuir para a escalada dos negócios, com controle
sobre riscos e sem prejudicar pessoas
Em tempos de transformação digital,
desde pequenas até grandes empresas ao redor do mundo estão abertas a expandir
os aportes em Inteligência Artificial (AI) generativa neste ano de 2024. As companhias
enxergam ferramentas como o ChatGPT como catalisadoras de inovação e escalonamento
dos negócios.
Uma pesquisa sobre as perspectivas para
o futuro do trabalho, realizada pela consultoria Accenture,
em novembro de 2023, com 2.207
executivos de alto escalão (C-Level) de 13 países, aponta que 85%
das companhias consultadas projetam aumentar seus investimentos em IA
generativa em 2024. O maior enfoque seria em áreas como atendimento ao cliente,
com 55% das preferências, seguido por finanças (45%) e marketing (41%).
O mesmo relatório revela que apenas 24% já investiram consideravelmente
nesta tecnologia, apesar de quase a totalidade das empresas nacionais (99%)
reconhecer o potencial transformador da IA generativa nas corporações e em diversos
setores. Entre os executivos brasileiros, a adaptação aos avanços tecnológicos
e inovações, como IA e automação, é uma das principais preocupações para 65%
dos C-Levels.
“À medida que o mundo dos negócios
continua a evoluir em um ritmo acelerado, a utilização de ferramentas e
técnicas de IA se torna cada vez mais crucial para desbloquear o potencial das
organizações, independentemente de seu tamanho ou segmento”, avalia Orlando
Brenner, gerente de projeto do Centro Internacional de Tecnologia de Software
(CITS), associado à Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK
Paraná).
Segundo ele, o CITS tem desempenhado um
papel fundamental nessa jornada, concentrando os esforços na execução de
projetos de desenvolvimento e treinamento, que impulsionam a adoção da IA. “Recentemente,
iniciamos um ambicioso projeto para construção de uma IA generativa, destinada
a facilitar a tomada de decisões estratégicas de um importante cliente. Em
paralelo, o Núcleo CITS de Transformação Digital 4.0 vem atuando fortemente com
foco em IA, desenvolvendo pesquisa e capacitação interna”, revela o gerente de
projetos.
Desafio
das empresas
O desafio das empresas é grande e o
temor é legítimo, na opinião do empreendedor no setor de contact center Ismael
Duarte Pereira, diretor da Intelecto, associada à AHK Paraná. “Como em qualquer
negócio e tipo de empresa, há três pilares fundamentais a considerar: pessoas, processos
e tecnologia”, diz.
Segundo o especialista, todos
precisam estar bem alinhados, pois de nada adianta ter bons processos, mas não ter
boa tecnologia e nem boas pessoas; ter excelentes pessoas, mas não ter
processos e tecnologia adequadas; ou ter uma tecnologia de custo elevado, porém
com pessoas e processos desalinhados.
“Gosto de fazer comparação com o boom
do CRM no começo dos anos 2000. Toda empresa queria ter um CRM. Pagaram muito
caro por aquela tecnologia. Na época não havia serviços em nuvem. Gastaram rios
de dinheiro com infraestrutura, servidores e hospedagem para ter um sistema de
gestão de clientes, porém as pessoas e os processos não foram bem alinhados. Não
foi explicado para as pessoas o motivo da tecnologia ser importante para os negócios
e a empresa. E muitas, a despeito de investimentos milionários, não conseguiram
colher frutos daquela tecnologia”, avalia.
Antigamente, processos que eram
complexos e demandavam contratação intensa de mão de obra, hoje podem ser feitos
pelo ChatGPT, com alguns cuidados, orienta Pereira. O ChatGPT foi o primeiro a
tornar a IA acessível ao usuário mais leigo e atualmente são várias as alternativas,
como a solução do Google, da Microsoft e da X, que podem ser exploradas pelas
empresas, para criar a própria ferramenta. E cada uma deve definir claramente os
objetivos desejados, para treinar, implementar e monitorar a solução.
O segredo é treinar constantemente a
equipe, sobretudo no que tange à cultura, princípios e valores da empresa. É
fundamental que tenha o engajamento das pessoas, do contrário, todo
investimento feito é boicotado consciente ou inconscientemente pelas pessoas
que vão usar a tecnologia ou pelos clientes a quem foi imposta aquela tecnologia.
“Muitas pessoas provavelmente já tiveram experiência de relacionamento com uma
empresa com a qual a única forma de se falar era por meio do chat. Até isso a
empresa tem que levar em consideração, para não ter prejuízo com o que ela
investiu.”
Versão
própria de IA generativa
Um possivel caminho é aproveitar um dos
modelos públicos citados e treiná-lo, com dados internos da organização. “A própria
Open IA tem estratégias para fazer ajustes finos para a aplicação da empresa e ela
mesma pode gerenciar sua versão de ChatGPT, com mais controle e evitar os
riscos”, explica o cientista de dados e especialista em IA e Machine Learning Thiago
Ângelo Gelaim, product owner na Bosch, associada à AHK Paraná.
Gelaim destaca vários cuidados, tanto
para desenvolver soluções inovadoras como criar soluções disruptivas. Entre
eles, o especialista aponta a segurança e integridade dos dados referentes a
informações sensíveis e confidenciais, além de conteúdo falso. “É preciso haver
muito cuidado, para que a concorrência não tenha acesso a informações confidenciais,
por exemplo”, diz.
Além disso, é necessário olhar com
atenção para a qualidade e a responsabilidade do conteúdo. “São muitas as
possibilidades de se construir clones de voz e vídeo, e isso pode ser bom ou
ruim. Sob a ótica negativa, tais materiais podem ser usados para moldar opiniões
públicas, o que é bem problemático”. Por fim, o cientista de dados chama a
atenção para o cuidado sobre viés e discriminação, como respostas
discriminatórias ou inadequadas e estereótipos. “Muitos dos dados oriundos dessas
ferramentas são usados com dados da internet, e ela, como um todo, é bastante
preconceituosa”, analisa.
Sobre a AHK Paraná –
Estimular a economia de mercado por meio da promoção do intercâmbio de
investimentos, comércio e serviços entre a Alemanha e o Brasil, além de promover
a cooperação regional e global entre os blocos econômicos. Esta é a missão da
Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), entidade
atualmente dirigida pelo Conselheiro de Administração e Cônsul Honorário da
Alemanha em Curitiba, Andreas F. H. Hoffrichter.